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Apitar ou Não Apitar - Essa é a Questão

  • Admin
  • 7 de nov.
  • 3 min de leitura

A arbitragem portuguesa refém da sua própria incoerência e ignorância.


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No futebol em geral, questionar o árbitro é quase tão antigo como o próprio jogar à bola. Entre cervejas e tremoços, as conversas de café sempre giraram em torno da "roubalheira" que foi o jogo do dia anterior, e como os clubes pagam somas milionárias aos árbitros para favorecem um lado em detrimento de outro. Em Portugal (não só no futebol, diga-se) o principal problema não é a corrupção, é pior do que isso: incompetência. No futebol português, o erro é hábito e a desconfiança uma tradição. A arbitragem, em vez de ser um catalisador de lei e ordem, é um dos principais focos de instabilidade. É o espelho de um futebol que há muito se habituou ao conflito e ao ruído.


A incapacidade dos árbitros em manter uma bitola, uma lógica, um sentido de justiça que sobreviva de jornada para jornada tornou-se parte integrante do nosso futebol. Existe uma ausência gritante de consistência, critério e capacidade de aplicar as mesmas regras a todos. Os erros acumulam-se sem memória anterior, como se cada jornada começasse do zero, sem nunca se saber o que vai suceder a seguir. Os árbitros parecem recusar-se a aprender com erros anteriores e não demonstram qualquer tipo de evolução coletiva. As mesmas falhas repetem-se em ciclos intermináveis: posicionamentos errados, interpretações desconexas, decisões sem critério. O VAR, apesar de reduzir a margem de erro, acaba por expor a falta de competência de quem o utiliza. A tecnologia não falha; falham os olhos que a interpretam. O VAR tem medo de intervir e contrariar o árbitro, e o árbitro medo de intervir e contrariar o VAR.


Falta coragem aos árbitros portugueses. Coragem para ser coerente e não ceder à conveniência do momento. Há decisões que não resistem a 24 horas entre elas, sendo que algumas não sobrevivem ao fim do mesmo jogo. O que é penálti em Alvalade é contacto normal no Dragão; o que é mão em Braga é lance limpo na Luz. O que é falta para expulsão na primeira parte, já não o é na segunda. O critério não existe, dando lugar a interpretações moldadas pelo contexto, seja por pressão, pânico ou o desejo narcisista de alguns árbitros de ser o centro das atenções.


Os clubes capitalizam sobre esta fragilidade estrutural como ferramenta de influência, gerando máquinas de propaganda que operam a cada jogo: conferências inflamadas, comunicados cirúrgicos, vídeos editados ao detalhe, acusações veladas e intimidações mais ou menos subtis. Tudo serve para moldar perceções, pressionar decisões futuras e condicionar quem apita. A luta pelo controlo da narrativa tornou-se quase tão importante como o jogo em si, e cada erro, real ou apenas sugerido. é ampliado até se tornar arma. É um ecossistema onde ninguém pretende verdadeiramente resolver o problema. A prioridade passa apenas por vencer o duelo comunicacional.


A maior ironia é que esta cultura não tem cor clubística; os erros tocam eventualmente a todos. O sistema funciona num modelo de total desresponsabilização, sendo que, quando ocasionalmente se identifica um erro de forma quase unânime, não há mecanismos concretos para os abordar. À boa moda portuguesa, ignorar o problema e seguir em frente, como se nada se tivesse passado. Até à próxima polémica. Até à próximo comunicado. Até ao próximo fim-de-semana. Ninguém parece acreditar que possa vir a ser diferente.


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