Contra Grandes, Portugal foi Maior
- Admin
- 9 de jun.
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Atualizado: 13 de jun.
Havia razões para duvidar. Portugal mostrou que vale a pena acreditar.

A Final Four da Liga das Nações chegou como teste decisivo a um projeto que muitos — com razão sustentada — julgavam ter perdido credibilidade. Martínez parecia, até então, preso entre discursos otimistas e uma equipa sem pulso competitivo frente a adversários de topo. Mas se a crítica deve ser firme quando os sinais são preocupantes, também deve saber reconhecer quando os factos a desafiam. Foi isso que esta Seleção fez: desafiou os nossos medos com maturidade e competência.
11 contra 11, e no final ganha Portugal
Décadas depois, caiu o famoso ditado "11 contra 11 e no final ganha a Alemanha". Que não sobrem dúvidas, Portugal sofreu. Não teve bola, não teve fluidez, e por momentos foi encostado às cordas. Mas havia ali algo que dava um certo conforto; Portugal tinha o jogo minimamente controlado, e mesmo depois do golo alemão, não deu sinais de pânico. Bastou Martínez — ironicamente — fazer entrar em campo os melhores jogadores, que a equipa cresceu de imediato. É verdade que o empate por Francisco Conceição nasce de um rasgo individual, mas o contexto em que esse momento surge é revelador: a equipa não estava partida, nem emocionalmente quebrada. Estava inteira, à espera de uma oportunidade.
Mais do que o golo, foi o que aconteceu antes e depois que mostrou algo diferente: Portugal soube sofrer sem colapsar, adaptou-se ao jogo, e, acima de tudo, manteve-se unido e ligado. E isso, para uma equipa que tantas vezes se dissolvia nos grandes jogos, já é um sucesso.

Aljubarrota 2025
Frente àquela que é sem margem para dúvidas a melhor equipa da Europa, Portugal conseguiu jogar olhos nos olho contra uma Espanha coletivamente brilhante e bem oleada. Longe já vão os tempos da teimosia do tiki-taka — a Espanha moderna é muito mais versátil do que isso. Sabe ser posicional, mas também gosta de ser vertical, objetiva e tremendamente incisiva em transição. Portugal esteve longe de ser dominante e teve períodos de aflição, mas também soube consistentemente ferir os espanhóis. Nuno Mendes (que exibição mostruosa, que golo!) é, com alguma distância, o melhor lateral esquerdo do mundo, como provavelmente Lamine Yamal nunca se esquecerá. O futuro Bola de Ouro de 17 anos teve uma exibição inconsequente muito graças à agressividade do ex-Sporting, que nunca lhe deu um milímetro de espaço para desequilibrar. Ofensivamente rebentou por várias vezes com a linha defensiva espanhola, que nunca conseguiu igualar o lateral em intensidade e velocidade. Vitinha a orquestrar, Ronaldo a faturar... o resto da história já todos estamos habituados.
Mas mais do que individualidades, voltava a imperar aquela sensação de conforto e controlo do jogo, que já se tinha feito sentir frente à Alemanha. A equipa soube evitar recuar em demasia e assumir coragem para ter bola e inteligência para decidir quando acelerar ou abrandar. Houve momentos de pressão alta bem executada, saídas com critério desde trás e capacidade para adaptar o posicionamento consoante a fluidez e imprevisibilidade espanhola. Não foi uma exibição de luxo — dificilmente poderia sê-lo contra o campeão europeu — foi uma exibição competente como há muito não se via.
No desempate por penáltis houve competência máxima do nosso lado e quase máxima do lado contrário. Faltou esse "quase", e desta vez foi suficiente para conquistar o troféu.

Antes do jogo com a Alemanha, escrevi que Portugal parecia refém do talento individual, emocionalmente frágil e taticamente previsível — e que esta meia-final poderia ser a última chamada para um projeto em perda. Disse-o com convicção, porque era isso que os jogos anteriores nos tinham vindo a mostrar. Mas a verdade é que, frente à Alemanha e depois à Espanha, a equipa revelou uma maturidade competitiva há muito não vista. Não foi pelo plano brilhante, nem por uma ideia de jogo revolucionária — foi pela forma como os jogadores se entregaram ao coletivo e como se sustentaram uns aos outros nos momentos críticos. Roberto Martínez, tendo percorrido cuidadosamente o fio da navalha, merece (por agora) sair ileso do outro lado. Matámos dois borregos numa semana só: há 25 anos que não ganhávamos a Alemanha e há 21 a Espanha. O Mundial está já aí à porta e é impensável assumir algo que não seja a candidatura ao título. É um peso que nós portugueses não estamos acostumados a transportar, mas que teremos de o saber fazer.
A última semana não apaga as falhas anteriores, mas obriga a reconhecer: durante quatro dias, Portugal voltou a ser Seleção — e deu-nos, finalmente, motivos para acreditar.
A Padeira de Aljubarrota estará a olhar lá de cima com grande orgulho.
José Lúcio ribeiro de Lima
Herói calciatore, ora leia essa primeira frase de novo