Fernando Santos:Passado, Presente e Futuro

Na sequência da mais recente renovação de contrato, é tempo de um balanço do passado e futuro do Sr. Engenheiro à frente da Seleção Nacional.

Quando Fernando Santos assumiu o cargo de selecionador nacional em 2014, Portugal atravessava um mau bocado. Depois de um Mundial no Brasil fraco a todos os níveis, perdendo o apuramento do grupo para os Estados Unidos, a seleção de todos nós procurava encontrar o seu rumo no meio da inconsistência exibicional que tinha vindo a demonstrar. Um plantel envelhecido e as sucessivas apostas de Paulo Bento em jogadores em final de ciclo (Miguel Veloso, Raúl Meireles, Ricardo Costa, etc.) começavam a tornar campanhas positivas algo difícil de alcançar. Contar unicamente com Cristiano Ronaldo não é, nunca foi e nunca será suficiente. Um Mundial para esquecer, aliado à preocupante derrota caseira diante da Albânia no primeiro jogo de qualificação para o EURO 2016, despoletou uma troca de liderança, que veio trazer resultados que nenhum português alguma vez se esquecerá.

Regeneração das tropas

Fernando Santos percebeu de imediato que tinha dar início a uma nova fornada de jogadores mais jovens (já na altura com tremendo potencial). De facto, o Sr. Engenheiro, lançou, até à final da Liga das Nações no final do ano transato, 41 jogadores na equipa principal, entre eles Bernardo Silva, João Cancelo, Rúben Neves, Raphael Guerreiro, Adrien Silva, Bruno Fernandes, Cédric Soares, João Félix e até José Fonte. A lista é infindável, sendo que 6 dos 11 jogadores que figuraram na final de Paris foram lançados na era Fernando Santos, o que reforça a enorme necessidade de renovação da Seleção Nacional aquando da sua chegada. Além disso, acolheu de novo Ricardo Carvalho na equipa depois da ostracização imposta por Paulo Bento, fruto de um conflito entre ambos. O veterano ex-FC Porto viria a fazer parte dos 23 campeões europeus em 2016.

Perder bonito ou ganhar feio

Nem tudo foi agradável para Fernando Santos no seu percurso na Seleção Nacional. O Sr. Engenheiro era (ainda o é hoje) frequentemente criticado pela sua estratégia em campo, dando enfâse ao trabalho defensivo em detrimento da criatividade ofensiva, limitando assim o talento dos jogadores mais criativos da equipa. Tal leva a que a Seleção tenha, na larga maioria dos seus jogos, pouco volume ofensivo, jogando sempre com linhas muito juntas e compactas, focando-se depois no contragolpe. Esta poderá revelar-se uma estratégia eficaz contra equipas de nível superior, porém ao defrontar equipas inferiores, que gostam também de esperar o adversário em bloco baixo, a equipa portuguesa demonstra uma incapacidade preocupante em construir em posse e assumir o jogo. Esta mentalidade, aliada a uma dependência excessiva do génio de Cristiano Ronaldo, atrapalhava a eficácia do futebol da Seleção, levando, no caso do EURO 2016, a que a maior parte das partidas de Portugal tenham durado 120 minutos. É este o ponto central das críticas a Fernando Santos por parte dos adeptos de um país que estava acostumado a um futebol mais fluído e criativo da sua seleção, fruto também das talentosas gerações anteriores.

Porém, foi com esta mentalidade que Fernando Santos descobriu a receita para derrubar, um-a-um, os adversários no Campeonato da Europa. Quando questionado sobre a falta de iniciativa da sua equipa, Fernando Santos adotou sempre uma postura resultadista que, verdade seja dita, é o mais importante. Portugal foi campeão europeu com uma postura pouco atrativa em campo, enquanto outros conjuntos, que empregavam estratégias mais entusiasmantes, não o conseguiram. No entanto, não é apenas dentro das quatro linhas que Fernando Santos triunfou. Teve a lucidez de reconhecer, e fazer os seus jogadores perceber, que não eram de todo a melhor equipa e que teriam de ir para a guerra com as armas que têm, abdicando assim de alguns princípios mais ambiciosos. Conseguiu criar um sentido de união e humildade fortíssimo no balneário, algo digno de um verdadeiro líder. Ficará sempre na história como o primeiro treinador português a vencer um título internacional.

Moldar o futuro

Na sequência de mais uma renovação de contrato (até 2024), Fernando Santos enfrentará potencialmente o maior desafio da sua carreira como treinador: preparar o futuro da nossa Seleção para o final de carreira de Cristiano Ronaldo. CR7 não é eterno, tendo no máximo mais dois ou três anos ao mais alto nível do futebol profissional. Colmatar a ausência de um dos melhores jogadores de sempre é um processo complexo. É muito habitual o desaparecimento de um jogador deste nível deixar um vazio extremamente complicado de preencher e é precisamente aí que entra Fernando Santos. A partida de um ícone como CR7 poderá ser o tónico que a Seleção necessita, de modo a abandonar a dependência de individualidades e tornar-se uma equipa com mais iniciativa e de maior versatilidade. Com esta renovação, a FPF fornece todas as condições ao treinador para preparar o pós-Ronaldo e construir uma Seleção Nacional novinha em folha, com uma nova identidade, naquele que será o período mais desafiante das últimas décadas no futebol português. É uma decisão que dá estabilidade à equipa neste complexo processo de transição que se avizinha. É um treinador com dez anos de trabalho em seleções nacionais e seis anos de Seleção Portuguesa e decerto conhecerá, melhor que todos os outros, todos os cantinhos da casa. Apesar de todos os defeitos, falhas e teimosias que o Sr. Engenheiro possa ter, é difícil imaginar alguém que não o próprio para liderar a nossa Seleção no contexto atual. Acaba por ser um excelente ato de gestão por parte da FPF, do qual não nos iremos arrepender.